segunda-feira, 30 de novembro de 2009

o amor é filme e deus espectador!

"O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica"


Filme é uma coisa complicada, não?
Sobre o mesmo filme se ouve "gosto", "não gosto", "é meu preferido", "é uma merda", "é hollywoodiano", "é forçado", "é tosco", "não faz meu estilo" (essa é a pior de todas - pra mim, se diz 'é bom' ou 'é ruim', a subjetividade do que eu chamo de "MEU ESTILO" não pode ser levada em conta!), "é denso", "não faz sentido, acaba sem mais nem menos", "é muito grande" (essa também é boa!) e taaaantos outros. Isso, a meu ver, faz com que uma discussão sobre filmes se torne densa inclusive com as pessoas com que se tem mais afinidade, quase como discutir religião e futebol (me permite não dizer nada sobre futebol hoje? ou melhor, me permite deixar aqui o meu protesto pela vitória do Flamengo no campeonato?). Eu assumo: meu gosto para filmes vai dos mais consagrados aos mais idiotas. Eu gosto, sim, de comédias românticas idiotas e mentirosas, mas se cinema é arte, assim como as outras, não posso querer lutar contra a emoção produzida também pelas películas.

Esse fim de semana eu encontrei uma coisa que existe em comum nos grandes filmes que eu gosto: a junção de uma cena e sua música, em geral, as cenas finais. Não é a trilha sonora em si, que muitas vezes nem é boa, é, por vezes, uma música, que começa quando os olhos já estão inchados e o rosto todo molhado, e que dá um nó na garganta até subirem os créditos.

Quem não se lembra, em "Efeito Borboleta", de Evan queimando suas lembranças e depois encontrando Kayleigh na rua ao som de "Stop Crying Your Heart Out?" ("don't be scared...you'll never change what's been and done..." ironicamente)? Ou de William Thacker e Anna Scott na entrevista coletiva, quando ele pergunta por quanto tempo ela ainda vai estar em Londres e ela diz "Indefinetly" e começa "sheeeeeeeeeee may be the beauty or the beeeaast..." e os flashes em cima deles...Em "Crash", depois de toda aquela trama maravilhosa, a capa invisível, tudo se interligando, como a nossa vida mesma se dá todos os dias, vem a cena final, e sobe a música do filme "maybe tomorrow, I'll find my waaaaay home...", consigo sentir o nó na garganta nesse minuto, só de lembrar. Não deixo de fora a cena mais bonita de "Lisbela e o Prisioneiro", os dois no caminhão, tocando "o amor é fiiiilme...". E também não poderia faltar a grande inspiração para quem vos fala, Amélie e Mathieu, na motocicleta pelas ruas de Paris, ao som da valsa e depois de nos emocionar com seu (fabuloso) destino.

Um dia, quem sabe, eu faça uma lista dos meus filmes preferidos da vida inteira, sem hierarquia, por favor, porque se tornaria impossível. Eu me lembro de ter um dia acreditado na Lisbela, que disse que a vida da gente é como um longa-metragem, e alguém um dia ter me dito "Deixa de ser idiota, a sua vida não é um filme". E eu posso dizer, à maneira clássica de ignorar, que quando ouvi isso, o filme que eu construo todos os dias era um suspense com bastante drama, e hoje eu vivo um romance com pitadas de comédia e aventura. Ah, e, é claro, com direito a uma trilha sonora espetacular.


"É quando as emoções viram luz, e sombras e sons, movimentos
E o mundo todo vira nós dois,
Dois corações bandidos
Enquanto uma canção de amor persegue o sentimento
O Zoom in dá ré e sobem os créditos"

"O Amor é Filme" - Lirinha



sexta-feira, 27 de novembro de 2009

should I stay or should I go?

Quando eu te disse que metade lia poesia e a outra metade fazia a unha, não estava brincando. Você riu, achou curioso, engraçado, diferente, intrigante, massa, encorajador, perfeito, ou, bem provavelmente, na verdade, nem ligou, e no fim "sei que não preciso me inquietar, até segundo aviso você prometeu me amar".
Mas será que, na verdade, como você mesmo me disse, e mais de uma vez, você já sabia que eu era exatamente assim? Será que é do ser ser assim?
Construídos sob antíteses, dualismos, duplicidades, paradoxos, oposições, e (de que jeito evitar?) incoerência, assim somos todos, alguns não apresentando tamanhos abismos entre os dois lados, e outros não possuindo somente pequenas fendas. De dentro pra fora e, também, de fora pra dentro, desde o que nos motiva em uma escolha até o que fica, através delas, refletido.

A metade consumista de mim hoje se ociou por trinta minutos, e, acredite, esses trinta minutos foram o bastante para entrar nas Lojas Americanas e comprar uma barra de chocolate da promoção e uma revista "Cláudia" desse mês, com a seguinte manchete: "Tudo que você precisa saber para estar saudável e linda daqui a 20 anos". É verdade que a incoerência começa na compra - qualquer idiota sabe que pelo menos 30 200 das 230 páginas da revista viriam com dicas de alimentação e malhação. Depois da incoerência, a depressão de olhar todas aquelas mulheres cheias de plásticas, podres de ricas e que aparentam 20 anos a menos e pensar que eu, hoje, com dezenove, não faço nenhum dos tópicos como "malhar", "comer bem", "usar filtro solar", ou "tirar a maquiagem antes de dormir". Os gregos utilizavam a filosofia "mente sã, corpo são", mas, será mesmo que eles consideravam os gordinhos corpo não são porque a aparência não favorece?

E foi aí que começou o maior conflito, o conflito que perpassa todos os outros da minha vida; que me suga todos os dias, que não me deixa viver em paz: comer ou não comer, eis a questão.

Metade de mim realmente acredita que, mais importante que o corpo que se exibe, deve ser o que se cultiva na mente. E eu até chego a perdoar o descaso corporal que me assombra pensando nas horas desse quase já ido semestre que passei lendo, escrevendo, assistindo filmes e estudando, e não correndo na esteira. Mas a outra metade...tem sofrido com o reflexo desse descaso no espelho (trocadilho, yes!). E mais ainda com o pensamento de que cuidar agora é, com certeza, a chave para um futuro bem cuidado.
Os que me conhecem, nesse minuto estão pensando "essa idiota não é gorda e ta fazendo drama", mas pelo amor de deus. Não é drama, é o tempo. E, principalmente, o que um padrão imbecil criado por pessoas que acham que ser pele e osso é mais bonito do que tem gordurinhas salientes faz com metade de mim! E digo mais: longe de ser um protesto, encarem como um desabafo à minha fraqueza, que consegue perceber a pequeninisse desse conflito interno, mas não consegue não se abalar...

A metade que vos fala nesse minuto, frustrada pelo peso, pela angústia (hoje eu seria capaz de escrever um livro inteiro intitulado "comer ou não comer mais um pedaço" ou "acabar com a barra de chocolate ali na sacola ou não?"), é a mesma metade que não controla o dinheiro, que faz as unhas, que vai pra Nova York, que gastou rios de dinheiro para cortar o cabelo hoje mesmo, que usa botas de couro e que precisa sair de casa todos os dias se sentindo bonita e bem arrumada. A outra metade frequenta o ich com prazer, dá dinheiro aos mendigos, aprecia sentar na grama, lê e pensa sobre a vida e, mesmo na frase mais idiota ali de cima, estava ainda pensando em escrever um livro. Isso reforça ainda mais a teoria de que conseguimos unir as sensações e os pensamentos mais antitéticos em uma só mente, que, bem lá no fundo, é, realmente, uma só.

No mais, um beijo enorme de coragem e admiração às gordinhas sem complexo! A metade de mim que pensa (isso me lembra "você ainda pensa, e é melhor do que nada") acredita que vocês são reais exemplos de felicidade e vitória nesse mundo de aparências e estereótipos tão idiota.

PS: Já posso começar a fazer minha lista de New Year's Resolutions??? Começo, então, por a) praticar um esporte; b) comer menos porcaria. O mesmo início há...uns 5 anos, pelo menos.


domingo, 22 de novembro de 2009

onde eu possa ficar do tamanho da paz




"- Eu quero que a minha casa seja assim, que nem essa aqui...com esses móveis, um piano, vinil, todo mundo entrando e saindo o tempo todo...
- Mas vai ser mesmo." 

Planos futuros muito distantes.
Dentro de mim, eu pensava: "a nossa, a nossa casa". Fora dele, ele disse: "a nossa casa."

sábado, 21 de novembro de 2009

valeu, zumbi!



Porque vocês não precisam de cotas (e muito menos de pena) para que o resto do mundo se orgulhe da cor de pele que representa, hoje e ontem, a dor, o sofrimento, a fome, a miséria, a escravidão, as favelas, a violência, a maior torcida do país, e o samba, a alegria, a força, a superação, em todos os aspectos. 
Apesar das descendências italiana, espanhola e portuguesa, e da consequente falta de melanina, eu tenho muito orgulho de ter sangue de preto, e de alguma forma, eu tenho, você tem, nós todos temos; nem que seja sangue de criação - eu fui criada pela Ana - nem que seja musical, - o samba de preto velho corre nas minhas veias desde criança.

Dignos da minha pena são os que, tanto há 600 anos atrás, quanto ainda hoje, acreditam na diferença que implica superioridade de algum homem sobre o outro, sejam homossexuais, pretos, amarelos, feios, gordos, amputados, pobres. Mas esses são pra outro dia...hoje é o dia é de vocês. Parabéns e obrigada por terem chegado tão longe e também tão perto de um mundo mais justo, ou no mínimo, menos estúpido.

E obrigada também a minha mãe e meu pai, que desde pequenininha me ensinaram a tratar todas as pessoas igualmente e com respeito, a Ana e toda a sua família; o mendigo na rua; os funcionários da limpeza; e sempre da melhor maneira que se há para ensinar alguém: dando o exemplo.


E deixo vocês com uma bênção do branco mais preto do Brasil. Saravá!


"O morro não tem vez
E o que ele fez já foi demais
Mas olhem bem vocês
Quando derem vez ao morro
Toda a cidade vai cantar
É um,é dois, é três
É cem, é mil a batucar
O morro não tem vez
Mas se derem vez ao morro
Toda a cidade vai cantar..."

 Vinicius de Moraes

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

e eu amarei o barulho do vento no trigo

Hoje vocês dois na rua foram, de primeira, uma esperança e uma perda. Uma perda irreversível: água e óleo nunca se misturaram, não seria dessa vez - e eu me lembro de quando eu era criança e enchi um copo inteirinho de água e meia lata de óleo quase, só pra ver se funcionava. Se passaram cinco minutos e eu percebi que estavam certos. Se passaram dois anos e quatro meses e eu percebi que estavam certos. E uma esperança que ainda não morreu, talvez só por ter a condição de ser a última, de cruzar com você na (nossa) rua e ser tudo como era antes, tudo como nunca deveria ter deixado de ser, a gente sentado no meu prédio aos risos, ou comendo cachorro quente.

De segunda, um ganho e uma perda. Dizem que a todos os ganhos sempre acompanham perdas...
O fim de um sofrimento constante; de um dar infinito e de uma troca zero; da falta de cultivo do ser; de um acorrentamento da alma. E por que não se passaram só cinco minutos? Já não me lembro mais. Talvez porque bastou um "oi" não dado para dois anos (ou cinco minutos) serem apagados.
Mas hoje não é o dia do ganho - ah! esse têm sido todos os dias! -. Hoje é o dia da perda.

Quase irrecuperável. É como se aquele que eu conheci, com quem eu convivi e cresci junto, em meio a estudos, poesias, músicas, adedanhas complicadas, letras redondas, julgamentos, tríades, noites de cachorro quente, códigos, cartas, colas, vôlei...é como se tudo isso tivesse se perdido nessa sucessão cronológica e assustadora que chamamos todos os dias de tempo, e que cada um tivesse seguido o caminho oposto, como duas substâncias, que, de um dia para o outro, por razões justificáveis ou não (mas não menos compreensíveis, ressalvo), incluíram em suas composições elementos que as transformaram em outras duas, totalmente diferentes inclusive em polaridade, e que são não mais passíveis de mistura.
 Eu falei duas porque sei da minha parcela de culpa...não sei da dimensão dela, talvez, mas eu não sou para julgar ninguém. Você também deve ter suas razões para estar tão diferente, e, eu ainda te amo, se é assim que você quer ser daqui pra frente, se assim você está mais feliz do que antes, eu respeito e vou com você até o fim, você sabe. E esse texto não é uma crítica, ou foi feito para te atingir - até porque nem sei mais se você não acha o fato de eu ter um blog patético e pseudointelectual e coisadequemqueraparecer - , ou a fim de expressar meus pêsames a uma relação que nós dois sabemos estar andando na corda bamba da esperança. É um simples desabafo de saudade e vontade de ter meu velho amigo aqui de volta.

"Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo..."

sábado, 14 de novembro de 2009

passar uma tarde...

"Quando eu de repente não era capaz de prestar atenção em nada do que você me dizia, foi que me peguei pensando que aqueles momentos eram os que jamais sairiam da minha memória e justamente os que eu sempre sonhei ter. E nesse fim de semana, por alguma razão especial, essa sensação se sucedeu infinitas vezes.
A começar pela sexta-feira (há alguns meses meus fins de semana têm começado nas sextas-feiras); não consegui ficar na aula de manhã quando ouvi o pandeiro cantando do lado de fora da janela... Falar no telefone foi só uma desculpa pra ficar te olhando, escondidinha, fazer aquilo que você faz de melhor, e que mais me encanta. À noite, uma chama reacesa não foi capaz de me provocar a menor reação, porque de repente você e tudo que a gente tem vivido se parece muito melhor. E de madrugada... ah, eu seria injusta - mesmo que me fosse concedido o dom de colocar esse tipo de sensações em palavras - ao tentar escrever o que acontece entre mim, você, o colchão e os lençóis, que faz chover e piscar a luminária, se é que você me entende...
No sábado, a necessidade de te deixar sozinho pra concluir seus estudos provocou em mim uma saudade que nunca havia surgido antes: uma saudadezinha, bem pequenininha, oposta àquela gigante, maior do mundo, que eu sinto quando você viaja e fica duas, três semanas fora. E, de repente, lá estávamos nós de novo, mas dessa vez tínhamos todo o tempo do mundo pra dormir e acordar infinitas vezes...
E esse texto começa aqui, às 3:30 da madrugada, com um mínimo de roupa, o silêncio e a escuridão quebrados, respectivamente, pelas brasas dos nossos cigarros e pela sutil luz do poste que invadia a sua janela; além das palavras que eu não seria capaz de me lembrar: o cenário era de um modo tão atrativo que as frases não tinham mais a menor importância.
Te acordar no domingo com café na cama, dormir, acordar, dormir de novo, acordar de novo, te ver fazendo o nosso almoço, ir embora, voltar e te ver sentado, de óculos na frente do computador, lendo, escrevendo e pensando; tudo como eu sempre quis que fosse. Dizem que nada pode ser perfeito, e eu acredito; quando as coisas começaram a ficar boas demais, um lado da minha vida desandou, e não sei sequer explicar a sensação de chegar à noite, exausta e chorando muito, e ter o seu colo, o seu carinho, ouvir tudo o  que você me disse todos os dias.

Quanto mais eu leio sobre as perguntas que nos fazemos todos os dias, mais eu me pego com um misto de sensações e pensamentos confusos, que começam numa citação do próprio livro: "E eu não quero que você seja uma dessas pessoas. Estou me esforçando ao máximo para familiarizá-la com suas raízes históricas, pois só assim você se tornará uma pessoa de verdade. Só assim você será mais do que um macaco sem roupas. Só assim você não vai ficar flutuando no espaço vazio." e terminam na grande questão sobre, se não sabemos de nada e de nada nunca saberemos, o que realmente vale à pena? E eu só consigo pensar que o amor em seu grau máximo, envolvendo de simples olhares a incríveis cenários, é a única razão que faz tudo realmente valer à pena. Te amo. E obrigada pelos melhores quatro meses da minha vida."
15 de Setembro de 2009

Eu uso hoje um texto de dois meses atrás para desejar feliz seis meses para nós dois e inclusive para o resto do mundo, que tem compartilhado de tanta alegria, todo dia, todo dia. Me pergunto até quando vou dizer "os x meses mais felizes da minha vida", ou se no fim dela direi "a mais feliz de todas as vidas".

No mais, já to bastante atrasada para a comemoração.


"assim como o oceano
só é belo com luar
assim como a canção
só tem razão se se cantar
assim como uma nuvem
só acontece se chover
assim como o poeta
só é grande se sofrer
assim como viver
sem ter amor não é viver..."





sexta-feira, 13 de novembro de 2009

pai, me ensina a ser palhaço?

"E o fogo com sua dança
Toda vida fez um som..."

"O fogo é uma mistura de gases a altas temperaturas, formada em reação exotérmica de oxidação, que emite radiação eletromagnética nas faixas do infravermelho e do visível. Desse modo, o fogo pode ser entendido como uma entidade gasosa emissora de radiação e decorrente da combustão."


Se vier com poesia pendurada no barbante, é transcedental.
Se for encantado, é TRANS-FI-GU-RA-ÇÃO.

Uma experiência que não me permitiu muitas fotos, que ao lembrar me arrepia; que não tem palavras, só sensações; e me cabe agora nada mais que o registro dessa noite mágica: Cordel do Fogo Encantado em Juiz de Fora, 12 de Novembro de 2009.

Ah, e também, é claro, cabe um agradecimento. Deixo aqui a minha alegria alheia (ééé, igual quando a gente sente vergonha alheia, sabe?) pelo som desses meninos, que, ressaltando a maior surpresa da noite, são gente como nós, são pessoas que dormem, acordam, pegam ônibus ou dirigem, têm fome e tomam banho, são feitos de carne e sangue e água - e fogo.
E que produzem poesia, música, batuque, teatro, macumba, cordel, arte, encanto, sensações - será que juntando tudo isso eu consigo outro elemento que não o fogo?

PS: Deixo aqui também registrada a minha mais velha paixão: me lembro, ainda criança, eu guardava uma caixinha de fósforos dentro da minha gaveta, e quando ficava muito nervosa, acendia um palito e olhava o circo pegar; e o cheiro me acalmava, e a mágica daquela imagem quente que surge do nada e pro nada volta (será que consegui alguma semelhança com a nossa própria efemeridade?), que ali durava segundos, eram os segundos de mais grandes (sic) sensações. Vermelhas, amarelas e quentes.

Muito obrigada pela maravilhosa noite de ontem. E pelos dias passados também.




"E a lona rasgada no alto
No globo os artistas da morte
E essa tragédia que é viver, e essa tragédia
Tanto amor que fere e cansa"

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

depois do final feliz...

Um belo dia, eu fui apresentada a essa história e a partir desse dia sempre achei que todo mundo devia ler. É um pouco grande, tem gente que tem preguiça, mas é tão bonito...


O Sabiá e a Girafa

O Sabiá

Sabia que o sabiá sabia assobiar? Dizia o meu avô. 
Sabia que o sabiá sabia avoar? Avoa, vô, avoa. E de ave ele entendia.
Mas o sabiá da minha história não sabia avoar. Assobiar ele sabia. 
Mas, que mais batesse as asas, o sabiá não subia.
Avoa, sô, avoa! O pobre não decolava. Pulava lá do galho, aterrizava na
bacia.
Não desistia o sabiá. Saltava, caía, pulava, caía, tentava, caía. Sabiá na bacia. 
À toa, sô, à toa. 
Todo mundo até ria, mas no fundo já sabia: o sabiá não sabia avoar.
Vivia a assobiar seu apetite: comer o ar, caber no ar.
Passar por cima das casas, das ruas, das gentes, do medo.
Passar de passarinho, passear devagarinho, sem pra onde nem caminho. 
À toa, à toa, a esmo. Só queria mesmo avoar.
Sonhos também havia. Asas arranhando a barriga das nuvens, vôos
atravessando a manhã vazia. 
Mas, entre as trapaças da brisa, o sabiá não saía.
Assobiava que eu nem te conto. Antes, o canto de tenor, a cor na noite escura. 
Depois, o canto de temor, a dor da falta de altura. 
Cantava que eu nem te canto, o sabiá desencantado.
Dias de sonhos rasantes, noites de sono arrasado. 
Mas ele, ressabiado, teimava em assobiar. 
Dorremifava macio, no galho ou na bacia, o desejo de avoar.
Um dia, o sabiá dizia, um dia eu consigo avoar.
 
 A Girafa

Girafa o meu avô não conheceu. Nunca teve o prazer, não foi apresentado.
Mas o velho deitado dizia: filho de peixe, peixinho é.
Isso vale pra outros bichos. Girafa também é sempre igual.
Nada fala, tudo espia. Sem um pio, sem um fio de voz. 
Só em riso e pensamento, ironiza o mundo no andar de baixo.
Mas a girafa da minha história era muito diferente. A muda queria mudar.
Não o mundo, mas a vida. Queria enganar o silêncio que lhe esganava a garganta.
Queria encolher a dor de não escolher as palavras. Queria desemudecer.
E não bastava soltar umas palavras no vento. Também sonhava em cantar.
Sonhava encantar o dia, molhar as tardes de poesia, melar o canto da noite com
doces melodias.
Prestava atenção no trovão, no temporal, na ventania.
Tentava imitar o azulão, o rouxinol, a cotovia. Mas a voz não derramava.
Então reclamava baixinho: para que tanta altitude, pra cantar só passarinho?
A girafa andava injuriada. Andava toda a cidade, do alto dos seus andares,
adorando a paisagem. Mas ficava na saudade o canto de homenagem.
Um dia, jurava a girafa, um dia eu consigo cantar.

O Sabiá e a Girafa

O encontro se deu por acaso, por acaso o deus dos encontros.
O sabiá resolveu chorar no alto de um pé de caju. 
A girafa se lamentava no baixo daquele pé. 
Uma árvore muito esquisita, mas desgosto não se discute.
Estavam os dois ali. Os dois no mesmo pé. Ela vendo o que não cantava.
Ele cantando o que não conhecia. 
Ele queria saltar nas alturas. 
Ela sonhava assaltar partituras.
E a dupla melancolia — ou foi a tal natureza? — tratou de cruzar os caminhos. 
A sabedoria do vento mandou o sabiá pro espaço. Pra ver se ele avoava.
Pra ver se acertava o compasso, o sabiá avoado.
Mas ele caiu de cabeça na cabeça da girafa. Silêncio. Sabiá assustado.
Contudo, depois do susto, o coitado gostou do que viu. 
Cada passo da girafa passeava ele no céu.
Cada girada do pescoço, um horizonte descoberto. 
E ele recomeçou a cantar.
A girafa ficou fascinada. 
Aquela voz afinada soltou sua cara amarrada.
Desfez a careta enfezada. 
Ofereceu então moradia ao dono de tal melodia, de canto tão doce e terno. 
E o canto do sabiá virou o seu canto eterno.
O sabiá ficou morando na cabeça da girafa. A girafa, namorando o canto do
companheiro.
Minha história acaba aqui. Mas a dos dois continua, sem platéia nem juiz,
depois do final feliz.  
Léo Cunha

Há quem diga que é uma história de amizade e solidariedade. Há quem diga que consiste em uma espécie de "psicologia de ensinamento" para que as crianças aprendam a lidar com as dificuldades da vida. Eu não sei não...pra mim, é muito simplesmente uma linda história de amor, que descreve metafórica e poeticamente aquilo em que realmente se baseia (ou pelo menos deveria) o amor: complementação. Encontrar no outro sempre um pouquinho do que em você não há e fornecer o que o outro procura; sem cobranças, sem esperas, com naturalidade e leveza; exatamente como os bichos lidam com a vida.

Ah! Além disso, usa como protagonista o meu passarinho preferido, porque canta bonito e é grande , e muitas vezes vermelho, e se for do papo amarelo, melhor ainda.  

"o sabiá no sertão quando canta me comove
passa três meses cantando, e sem cantar passa nove
porque tem a obrigação de só cantar quando chove"

"sabiá de laranjeira tu bicaste o meu melão
a fruta mais brasileira, mais uva, mais fruta-pão..."

No mais, uma boa noite.



"
eu sou, sou sua sabiá
o que eu tenho eu te dou
e tenho a voz
só tenho a voz
cantar, cantar, cantar, cantar...
"




domingo, 8 de novembro de 2009

such a perfect day.

Para o apreciador de música boa, é impossível não reconhecer o quão estreito tem ficado o nosso leque em se tratando da música da atualidade. A verdade e que já não se faz mais música como antigamente (a velha falando), muito menos quando o "antigamente" remete aos meus anos de música preferido, os 60's e os 70's; uma geração (ou duas) de artistas excelentes, esbanjando personalidade, estilo e musicalidade, e influenciando um pequeno e em fase de aperfeiçoamento* mundo inteiro.

Enfim, hoje seguimos procurando agulhas em um palheiro gigante, encontrando aqui e ali boas influências musicais, bons artistas, pessoas lutando pela musicalidade dentro desse baú imenso de porcarias desqualificadas que têm (certas coisas da nova regra do português ainda se mostram tão ineficientes para mim que eu prefiro usar tudo como era antes) chamado de "música", e tentando sempre salvar nossas crianças do lixo comercial, assim como, um dia, nos salvaram.

[*ressalvas para esse "fase de aperfeiçoamento"; depois de ter estudado muita história, a visão que eu consigo ter sobre o mundo dessa época é esbranquiçada, como se depois de tanto tempo de obscuridade, o povo conseguisse, finalmente, enxergar a luz no fim de anos negros, e se libertar de conceitos e estatutos antiquados e desnecessários. Só de maneira nenhuma pense que eu penso que os anos 2000 representam essa luz.]

Uma das maiores bandas mundiais em termos musicais, estilísticos e de personalidade, hoje em dia, é o Coldplay, e deixo bem claro que esse conceito é baseado em várias e várias referências, mas nunca no meu gosto, de modo que, ainda que o conceito musical deles não se interligasse com o meu, eu teria que respeitar as estatísticas. A possibilidade de vê-los no Brasil em fevereiro, junto com meu irmão, e logo nesse momento tão British que a gente anda vivendo, me fez ontem aceitar pagar R$500 se fosse preciso para ir na pista VIP e ficar bem pertinho dos caras. Todo esse dinheiro parece que não vai ser necessário, mas por um minuto eu tive orgulho da minha visão de dinheiro (na verdade, chega a ser um defeito não saber controlar os gastos). Deveria eu ter pensado "não, isso é dinheiro demais para esses capitalistas filhos de uma puta"?

Outro dia, tinha um sol perfeito brilhando lá fora, e o dia estava realmente muito, muito bonito. Eu subi pra caminhar na UF e essa música começou a tocar. "It's such, it's such a perfect day..." As circunstâncias se uniram de maneira tão favorável que me atingiram com tamanha particularidade que eu chorei de emoção, de alegria. Não é isso que a arte nos proporciona, não é disso que ela é intrinsecamente composta, desde o agente até o receptor? Não é em busca de emoções que passamos a nossa vida inteira, inclusive quem não se interessa por arte?

E não é para suprir as minhas buscas que eu trabalho e ganho dinheiro no final de cada mês? Para que eu chegue no fim da minha vida pensando "fiz tudo que queria ter feito"? Não é para gastar com as nossas necessidades que inventaram esse imperador impiedoso chamado "dinheiro"? E se eu tiver necessidade de emoção? E se eu tiver necessidade de arte?

Deixo aqui o clipe da música que me inspirou a esse post, e recomendo.
Artisticamente emocionante.



"Now the sky could be blue, I don't mind
Without you it's a waste of time..."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

she wants a visa to ride...

Hoje é dia de curar essa ansiedade que me cerca há uma semana, mais ou menos: vou ao Rio tentar tirar um visto para embarcar para Nova Yorque, no dia 3 de janeiro de 2010. São tantos papeis, tantos formulários, tanto dinheiro, tanta burocracia! para chegar lá e talvez sequer olharem meus documentos e definirem - de maneira nenhuma subjetivamente, imagina - se me permitem (ou não) entrar in their country; e, se me permitem um palavrão, puta que pariu. (!) Já faz uma semana que eu não paro de pensar e falar nisso (e de comer, também, o pior até agora), e ontem, um acontecimento inédito: insônia. A minha pergunta é: será que hoje vem mesmo a cura?

Essa história de "autorização para entrar em um país" é muito doida. Considerando as palavras bonitas, creio que usaria "irracional" para adjetivar meu sentimento. Ou deveria eu considerar normal, correto e inteligente a obrigação de adquirir uma permissão para entrar em um pedaço de terra igualzinho ao que eu nasci e vivo? Seria errado se eu, ou qualquer outro ser do mundo, me cansasse simplesmente da vida onde nasci e por acaso resolvesse mudar a rotina e quisesse acordar em outro lugar, bem distante? É certo, então, que eu tenha que implorar formalmente por uma licença (do tipo "excuse-me" e não "license") e provar com todos os documentos que me são possíveis que eu não vou roubar o subemprego de ninguém, e que pretendo voltar, sã e salva, para os braços da minha pátria mãe?

Depois de uma inusitada discussão hoje sobre "o dinheiro move a vida ou não?" - e nunca deixando de compreender o quão forte essa frase pode parecer - me permito adaptar as palavras à minha presente realidade e parafrasear: "o dinheiro move o direito de ir e vir", e estou falando tanto de mim, pobre latina preta que sonha estudar a língua dos branquelos loiros e sardentos mais poderosos do mundo, e que corre, hoje, o risco de não ser permitida de entrar em um território como qualquer outro, afim de evitar que se corra o risco de uma super lotação de pobres latinos e pretos fritadores de hambúrgueres, quanto daquele mendigo preto e fedorento, a quem não se permite a entrada em um shopping center burguês, por representar um risco à tranquilidade burguesa. (parece que nem precisamos ir tão longe, não é?)

Mais uma vez, confirmo a minha teoria de que o pior sentimento gerado pelo homem, o real contrário do que chamamos de "amor" (que antecede o ódio e a indiferença), é o egoísmo. Alguém algum dia disse que aquele pedaço de terra possuía um DONO, e que, de então em diante, só entraria e sairia de lá quem o DONO autorizasse. Vocês conseguem ouvir? "Daqui pra lá é MEU, daqui pra lá é SEU, e não se fala mais nisso!" "Mas o João não tem terra, pobre coitado!" "Isso não é problema MEU, EU cheguEI aqui primeiro, essa terra é MINHA, ele, se quiser ou precisar, que venha trabalhar para MIM. E tem mais: quem quiser passar pelas MINHAS terras agora terá de pagar!"
E assim parece terem só começado os maiores problemas do mundo. Terminar com essa palavra "mundo", dentro de um contexto mundial onde "mundo" não mais existe, chega a ser uma honra.

PS: Mas na verdade, eu vou aproveitar que citei nosso amigo "amor" e deixar aqui o meu protesto pela ausência de consideração de sentimentos. Mentir os sentimentos se tornou um hábito tão frequente que não se acredita mais no que os outros dizem que sentem. Eu e meu namorado, hoje, com pouco menos de seis meses de namoro, nos gostamos, por certo, muito mais do que muitos cônjuges de dez, vinte anos de casados (ou de seis meses, por que não? todo mundo sabe da credibilidade zero do casamento, né). Entretanto, se eu dissesse ao moço do visto que mesmo que eu não tivesse faculdade, emprego e família, eu voltaria para o Brasil porque encontrei o homem da minha vida e jamais deixaria ele passar, a probabilidade de ele chegar a lágrimas de riso é de 99,9%; enquanto que, se eu entregasse a ele a minha certidão de casamento, meu visto estaria garantido. São as assinaturas, que andam valendo muito mais que o coração.
 


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

"...e de te amar assim, muito e amiúde, é que um dia em teu corpo, de repente..."

Depois desses quatro dias sem você, me restou voltar agora pra casa (quatroetrintaedoisam), sendo que amanhã o dia ta pretendendo começar às sete, com iogurte com aveia, laranja, pão integral com requeijão light, em seguida auto-escola e logo depois caminhada (porque não há mais quem aguente esse tamanho que eu ando sustentando); e encontrar a cama cheia de livros velhos, cds proibidos, o puff pilhado de roupas, a mesa, por sua vez, de livros, me lembra que, de novo, a minha vida parou e não volta ao normal enquanto você não se for novamente, como de costume. Ah, mas isso está muito e muito longe de ser um protesto...

Fui interrrompida na volta pra casa por uma lua. Aquela que vive lá em cima, desde ontem, e hoje inclusive, ta batendo recordes de boniteza; e isso me fez lembrar meus tempos áureos, de antes do período de Idade Média (2007 - 2009) pelo qual eu passei - quando a Igreja não me permitia acesso à cultura, literatura, música e arte (eu acho essa metáfora sensacional! modéstia a parte) - quando eu, que sempre fui mais música do que literatura - mas se viesse junto, era melhor ainda - passava meu tempo livre a decorar sonetos de Vinícius de Moraes. Ah, hoje você acha tempo perdido, mas não era nada mal para uma adolescente, e, vamos lá, bem melhor do que escutar NX Zero e pegar geral, como andam fazendo hoje em dia.

Eu sabia (e ainda sei, fala sério que essa nossa memória é uma coisa muuuito louca mesmo) o da Fidelidade ("...mas que seja infinito enquanto dure"), que era mais chichezinho; o do Amor Total ("...hei de morrer de amar mais do que pude"), que era muito bonito e está presente no título também; e o chamado "Soneto do Corifeu", escrito para a peça "Orfeu da Conceição", do próprio já citado, uma adaptação do mito grego de Orfeu e Eurídice para as favelas do Rio. E contém a comparação mais bonita que eu já ouvi sobre uma mulher e a lua; ele sabia mesmo como escrever sobre e a nós, e era, sem dúvida, o que cantava de melhor (acho que por isso casou tanto sendo tão feio!).

De dentro da minha mente adolescente, fico por aqui a homenagear a lua e as mulheres com essa obra do nosso poetinha. Uma boa semana para todos.

"São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge, de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar, e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua
Tão linda, que só espalha sofrimento
Tã cheia de pudor, que vive nua."


Vinícius de Moraes - Soneto do Corifeu



ainda somos os mesmos e vivemos...

É frequente em mim a reflexão do quanto vivo, penso e sou igual ou diferente dos meus criadores e sobre o tamanho de sua influência na minha própria criação e formação; e quando vejo hoje, dezenove anos depois do nascimento, minha mãe a fazer coleção de livros de auto-ajuda e meu pai a escutar música ruim, esse pensamento vem à tona e me deixa confusa. Estou certa de que deles herdei muito mais do que as sobrancelhas e o jeito de falar, mas tem uma coisa que me orgulha: o incentivo cultural. Lembro com muito orgulho e respeito de ter perguntado pelo menos umas cinco vezes antes de aprender sozinha, isso lá pruns cinco ou seis anos, o significado de uma palavra e ouvir "Vá procurar no dicionário!"; ou de dizer "Arruma alguma coisa pra mim comer" e ouvir "Mim não come, mim é índio! Para eu comer!"; ou de quando enchiam a boca para dizer que éramos leitores constantes e absolutos, eu e meu irmão, e que tínhamos aprendido a ler com quatro anos de idade.

Toda essa nostalgia vem de uma breve pausa no cotidiano. Pela tarde, fiz uma boa faxina nos livros velhos do meu pai e encontrei alguns clássicos - que hoje sei que são clássicos - que nunca diria possíveis de encontrar. E esse encontro me fez pensar que, se hoje reconheço-os como clássicos, devo à criação letrada que me foi dada, não por ter aprendido com cinco anos o significado de "superficialmente", por exemplo, mas pelo gosto que me foi provocado e que nascia novamente a cada virada de folha.

A grande surpresa foi "O Profeta", de Gibran Khalil Gibran, que aprendi a amar há alguns meses, e que no momento da descoberta da versão boa e velha e desencadernada, datando de "Dezembro/73", me provocou bastante orgulho. E aqui deixo os versos proféticos sobre o amor, o mais nobre de todos os sentimentos e o único Deus que a mim se faz possível de acreditar; nossa fonte e nossa meta hoje e sempre; a única saída diante do aviso constante e presente da nossa única certeza.

"Então, Almitra disse: "Fala-nos do Amor".
'Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe;
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.'
(...)
O amor não tem outro desejo, senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes vossos desejos:
'De vos diluírdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para a casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem aventurança.'"



Desejos de um bom feriado.