domingo, 8 de novembro de 2009

such a perfect day.

Para o apreciador de música boa, é impossível não reconhecer o quão estreito tem ficado o nosso leque em se tratando da música da atualidade. A verdade e que já não se faz mais música como antigamente (a velha falando), muito menos quando o "antigamente" remete aos meus anos de música preferido, os 60's e os 70's; uma geração (ou duas) de artistas excelentes, esbanjando personalidade, estilo e musicalidade, e influenciando um pequeno e em fase de aperfeiçoamento* mundo inteiro.

Enfim, hoje seguimos procurando agulhas em um palheiro gigante, encontrando aqui e ali boas influências musicais, bons artistas, pessoas lutando pela musicalidade dentro desse baú imenso de porcarias desqualificadas que têm (certas coisas da nova regra do português ainda se mostram tão ineficientes para mim que eu prefiro usar tudo como era antes) chamado de "música", e tentando sempre salvar nossas crianças do lixo comercial, assim como, um dia, nos salvaram.

[*ressalvas para esse "fase de aperfeiçoamento"; depois de ter estudado muita história, a visão que eu consigo ter sobre o mundo dessa época é esbranquiçada, como se depois de tanto tempo de obscuridade, o povo conseguisse, finalmente, enxergar a luz no fim de anos negros, e se libertar de conceitos e estatutos antiquados e desnecessários. Só de maneira nenhuma pense que eu penso que os anos 2000 representam essa luz.]

Uma das maiores bandas mundiais em termos musicais, estilísticos e de personalidade, hoje em dia, é o Coldplay, e deixo bem claro que esse conceito é baseado em várias e várias referências, mas nunca no meu gosto, de modo que, ainda que o conceito musical deles não se interligasse com o meu, eu teria que respeitar as estatísticas. A possibilidade de vê-los no Brasil em fevereiro, junto com meu irmão, e logo nesse momento tão British que a gente anda vivendo, me fez ontem aceitar pagar R$500 se fosse preciso para ir na pista VIP e ficar bem pertinho dos caras. Todo esse dinheiro parece que não vai ser necessário, mas por um minuto eu tive orgulho da minha visão de dinheiro (na verdade, chega a ser um defeito não saber controlar os gastos). Deveria eu ter pensado "não, isso é dinheiro demais para esses capitalistas filhos de uma puta"?

Outro dia, tinha um sol perfeito brilhando lá fora, e o dia estava realmente muito, muito bonito. Eu subi pra caminhar na UF e essa música começou a tocar. "It's such, it's such a perfect day..." As circunstâncias se uniram de maneira tão favorável que me atingiram com tamanha particularidade que eu chorei de emoção, de alegria. Não é isso que a arte nos proporciona, não é disso que ela é intrinsecamente composta, desde o agente até o receptor? Não é em busca de emoções que passamos a nossa vida inteira, inclusive quem não se interessa por arte?

E não é para suprir as minhas buscas que eu trabalho e ganho dinheiro no final de cada mês? Para que eu chegue no fim da minha vida pensando "fiz tudo que queria ter feito"? Não é para gastar com as nossas necessidades que inventaram esse imperador impiedoso chamado "dinheiro"? E se eu tiver necessidade de emoção? E se eu tiver necessidade de arte?

Deixo aqui o clipe da música que me inspirou a esse post, e recomendo.
Artisticamente emocionante.



"Now the sky could be blue, I don't mind
Without you it's a waste of time..."

2 comentários:

Andrey Brugger disse...

"Não é em busca de emoções que passamos a nossa vida inteira?"

Exatamente. Demais seu texto, demais seu comentário lá no Ironias.

Que haja vento, bons ventos para nós!
:)

disse...

Interessante, observar a música por este ponto de vista. Certa vez, li em um outro blog, que com as tecnologias de hoje, vivemos a era dos "ilustres desconhecidos". Dividimos os gostos e gêneros em comunidades. Pessoas se lançam na internet. E cabe ao público pinçar aquilo que julga interessante. O período é de transição. E talvez o fato de não encontrarmos qualidade atualmente, seja este. A mudança, que não nos permite também que vejamos a consistência.
Até!