terça-feira, 30 de março de 2010

vamos embora, companheiro, vamos...

Eu hoje escrevo a você.
Será que você me entende? Será que quando eu falo que não pode carregar o meu chinelo pela casa ou roer meus móveis você me compreende? Será que não está só pensando 'ela acha que eu ainda sou filhote, e não aceito não como advertência', e eu fico como uma boba tentando te educar?
É que você ainda não conhece o mundo. O mundo é duro, mas você nunca vai chegar a conhecer, a verdade é que pra você tudo é e sempre será simples, e o mais importante desafio do dia é qual móvel roer ou onde fazer xixi.
Ninguém te ensinou tempo, que tem hora pra dormir e hora pra acordar. Você acorda quando eu chego de madrugada, e dorme cinco segundos depois, e depois acorda com a corda toda às seis da manhã, querendo brincar. Pula na minha cama e lambe a minha orelha, será que você sente carinho? Como assim, ninguém te ensinou o que é carinho? Não te ensinaram amor também? E o que você sente quando eu chego cansada do trabalho e escuto suas unhas batendo no chão vindo na minha direção o mais rápido possível, pra saudar a minha chegada...Isso não é amor? Mas como você sente se nunca te ensinaram?
Ninguém me ensinou também, é verdade. Só batizaram. Um dia me disseram que quando eu gostasse muito de alguém eu devia dizer "eu te amo". Ou quando gostasse menos, "eu te adoro". Mas ninguém me disse o que fazer quando o que eu sentisse fosse diferente. Eu não gosto igual de você e ou do meu pai e do meu namorado. Mas pra todos eles se diz "eu te amo". As pessoas acham que elas podem nomear os sentimentos, mas pra quê isso, não é? Você nem sequer fala, e consegue me dizer direitinho quando tem frio, fome, sono, dor, alegria, tristeza ou carência.
E todos os dias eu prossigo a me lembrar por que eu sou sua dona e não você é meu dono - questionar se deveríamos ou não estabelecer essa relação de posse não vem ao caso agora; no meu mundo é assim que as coisas são, as pessoas não podem ver alguma coisa inferior a elas que saem espalhando que são donos, pondo nomes e impondo relações de domínio completo, até com gente tem gente que faz isso. Mas é que pensar faz de mim superior a você. Tirando que você não tem que trabalhar, que ouvir desaforos, que ir mal na prova, que que cumprir ordens ou comer menos, que brigar com o namorado ou com a mãe, que brigar por terra ou por dinheiro, que brigar, somente; e que, no seu mundo cruel, dormir, comer e brincar são suas tarefas diárias.
Sofrer complicando as coisas faz com que eu seja mais do que você. E é por isso que não há nada mais poderoso do que sua pureza, seus olhinhos curiosos e seu narizinho molhado pra me levar diariamente mais perto do seu pensamento, o mais simples de todos, aquele que os homens se esquecem que possuem, e lutam pra voltar a ter.


quarta-feira, 10 de março de 2010

sinfully delicious


Na verdade, não muda a vida de ninguém, e nem parece feito pra isso, de qualquer maneira (a verdade é que quem pensa como pensa não se permite questionar, e muito menos aceitar mudanças). Mas mostra de maneira bem bonita a possibilidade de ver a vida e sua simplicidade, sem preconceitos, sem conceitos, sem leis nem sofrimento, assim mesmo com tudo foi feito pra ser. 
Bom pra qualquer idade, qualquer pessoa, qualquer cultura. Mas fica mais delicioso se visto por um coração apaixonado...e com muitos bombons e trufas pra durante e depois!



Chocolat - Juliette Binoche, Judi Dench, Alfred Molina, Lena Olin and Johnny Depp

terça-feira, 2 de março de 2010

clube da estrada em sua ofegante epidemia

"Água de beber, bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer era tão normal
Que o tempo parava..."

São as montanhas que fazem toda a diferença, e nunca fizeram tanto. E o pão de queijo com café, e o barulho do trem, um 'uai' aqui e outro 'sô' por lá. E uma pureza nos sentidos, e o meu sentimento favorito: a simplicidade, em cada um dos gestos, e dos atos, e das casas, das ladeiras, dos morros, das paisagens, e do ésse puxado com orgulho no fim dos plurais.
Foi eleito o melhor carnaval de todos os anos: cinco dias de estrada de terra, montanhas, barro, poeira, sol, verde, trem azul, velho maquinista com seu boné, girassol da cor do seu cabelo, a cidade é moderna, cavaleiro marginal, maria fumaça não canta mais, você não quer acreditar, risadas, música, música, música, música, e pra mim uma coisinha ainda mais: amor. Ou pelo menos os dois amores mais frequentes.

E não tem melhor sensação do que a de estar em casa. Guardadas as devidas proporções, quero dizer, eu sei que não era exatamente a isso que Saramago se referia quando escreveu: "...dizia que todo homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, Não é a mesma coisa." Mas eu bem acho que nada como um mês em Nova York pra me fazer eu me sentir tão mineira. 

Bem vindos de volta, de volta das férias, de volta pra casa, de volta à rotina, de volta à construção diária de todos os dias, de volta à página expositora de emoções que chamamos de blog. E vamos começar tudo de novo...




"Tinha sabiá, tinha laranjeira
Tinha manga rosa, tinha o sol da manhã
E na despedida, tios na varanda
Jipe na estrada
E o coração, lá..."