sábado, 11 de julho de 2009

Cê tá pensando que eu sou Lóki, bicho?



Acabei de sair do cinema, fui ver "Lóki", o documentário tão aclamado sobre Arnaldo Baptista. Confesso que tive medo de não apreciar da mesma forma que todos os pseudointelectuais-super-fãs que eu encontrei pelo caminho e que me disseram maravilhas, mas na minha condição de pseudointelectual-super-fã, me encontro ainda em estado completo de êxtase, e acho que vou voltar amanhã pra ver de novo.
Entretanto, eu indicaria esse filme exclusivamente para três grupos de pessoas:

1. Jornalistas e/ou produtores de documentários. "Lóki" apresenta uma riqueza surpreendente de detalhes e materiais raríssimos, típico de superproduções; fotografia bacana; e depoimentos de pessoas certas encaixados numa ordem perfeita.

2. Músicos e/ou apreciadores da boa e velha e nova música. Um olhar músico verá em "Lóki" a história de um homem que mudou o rumo da música brasileira numa época em que "era permitido proibir", trazendo guitarras distorcidas para os banquinhos e violões, injetando psicodelismo embutido num rock'n'roll de primeira e dizendo tudo o que se queria dizer com - e não existe palavra que expresse melhor - alegria. Além de depoimentos de ícones como Tom Zé, Nelson Motta, Gilberto Gil, Sean Lennon, Kurt Cobain; bastidores, ensaios, shows e mais shows; o mundo das drogas e o poço do amor, e a arte sempre a sobreviver - quando não a se fortalecer...

3. Fãs. Ahhh, esses então vão ao delírio. A começar pelos depoimentos constantes do Sérgio, Dinho e Liminha, "nossos" eternos Mutantes, imortais na nossa memória mutante. Eu incluiria aqui também, e inclusive por essa razão, alguém que já havia me surpreendido, mas nada como hoje: Zélia Duncan, que de somente mais uma cantora de voz grossa e música de barzinho, depois de toda eficiência, humildade e devoção mostradas em Londres, falou as palavras mais bonitas de todas as entrevistas; falou como fã onde todos falavam como amigos, e talvez tenha, assim, dito tudo que os nós fãs sempre quisemos dizer; mostrando ainda que a oportunidade de inserção (e nunca de substituição) não foi dada simplesmente a uma talentosa cantora, mas principalmente a uma profunda apreciadora.
Nossos pais diriam que o "nosso" Arnaldo não é nem nunca foi nenhum exemplo a ser seguido (assim como nenhum outro artista, se me for permitida essa observação) - e eu até que concordo, sabia? Um filme da Madre Teresa de Calcutá pode ser que agrade mais, então, varia com a proposta - e ninguém que vir "Lóki" vai se apaixonar por ele, até mesmo pelo contrário. Um artista não é nada mais do que um "despertador de sentimentos", e eu me arrisco a dizer que só os que já tiveram os sentimentos dispertados pela arte dos Mutantes, e em particular do "nosso" Arnaldo, consegue sentir o que eu senti ao sair da sala de cinema com os olhos cheios de lágrimas, e com redobrados carinho, respeito e admiração por um artista - e nada mais do que isso - que me fez sentir alegria, emoção, admiração, e compreender um pouquinho mais da relação tão próxima entre loucura e felicidade ao ser incompreendido e considerado louco. Mas feliz.

PS: quanto mais eu vejo e leio sobre a Rita Lee, mais eu tenho vontade de xingar. Deixo aqui o meu protesto.