quinta-feira, 5 de novembro de 2009

she wants a visa to ride...

Hoje é dia de curar essa ansiedade que me cerca há uma semana, mais ou menos: vou ao Rio tentar tirar um visto para embarcar para Nova Yorque, no dia 3 de janeiro de 2010. São tantos papeis, tantos formulários, tanto dinheiro, tanta burocracia! para chegar lá e talvez sequer olharem meus documentos e definirem - de maneira nenhuma subjetivamente, imagina - se me permitem (ou não) entrar in their country; e, se me permitem um palavrão, puta que pariu. (!) Já faz uma semana que eu não paro de pensar e falar nisso (e de comer, também, o pior até agora), e ontem, um acontecimento inédito: insônia. A minha pergunta é: será que hoje vem mesmo a cura?

Essa história de "autorização para entrar em um país" é muito doida. Considerando as palavras bonitas, creio que usaria "irracional" para adjetivar meu sentimento. Ou deveria eu considerar normal, correto e inteligente a obrigação de adquirir uma permissão para entrar em um pedaço de terra igualzinho ao que eu nasci e vivo? Seria errado se eu, ou qualquer outro ser do mundo, me cansasse simplesmente da vida onde nasci e por acaso resolvesse mudar a rotina e quisesse acordar em outro lugar, bem distante? É certo, então, que eu tenha que implorar formalmente por uma licença (do tipo "excuse-me" e não "license") e provar com todos os documentos que me são possíveis que eu não vou roubar o subemprego de ninguém, e que pretendo voltar, sã e salva, para os braços da minha pátria mãe?

Depois de uma inusitada discussão hoje sobre "o dinheiro move a vida ou não?" - e nunca deixando de compreender o quão forte essa frase pode parecer - me permito adaptar as palavras à minha presente realidade e parafrasear: "o dinheiro move o direito de ir e vir", e estou falando tanto de mim, pobre latina preta que sonha estudar a língua dos branquelos loiros e sardentos mais poderosos do mundo, e que corre, hoje, o risco de não ser permitida de entrar em um território como qualquer outro, afim de evitar que se corra o risco de uma super lotação de pobres latinos e pretos fritadores de hambúrgueres, quanto daquele mendigo preto e fedorento, a quem não se permite a entrada em um shopping center burguês, por representar um risco à tranquilidade burguesa. (parece que nem precisamos ir tão longe, não é?)

Mais uma vez, confirmo a minha teoria de que o pior sentimento gerado pelo homem, o real contrário do que chamamos de "amor" (que antecede o ódio e a indiferença), é o egoísmo. Alguém algum dia disse que aquele pedaço de terra possuía um DONO, e que, de então em diante, só entraria e sairia de lá quem o DONO autorizasse. Vocês conseguem ouvir? "Daqui pra lá é MEU, daqui pra lá é SEU, e não se fala mais nisso!" "Mas o João não tem terra, pobre coitado!" "Isso não é problema MEU, EU cheguEI aqui primeiro, essa terra é MINHA, ele, se quiser ou precisar, que venha trabalhar para MIM. E tem mais: quem quiser passar pelas MINHAS terras agora terá de pagar!"
E assim parece terem só começado os maiores problemas do mundo. Terminar com essa palavra "mundo", dentro de um contexto mundial onde "mundo" não mais existe, chega a ser uma honra.

PS: Mas na verdade, eu vou aproveitar que citei nosso amigo "amor" e deixar aqui o meu protesto pela ausência de consideração de sentimentos. Mentir os sentimentos se tornou um hábito tão frequente que não se acredita mais no que os outros dizem que sentem. Eu e meu namorado, hoje, com pouco menos de seis meses de namoro, nos gostamos, por certo, muito mais do que muitos cônjuges de dez, vinte anos de casados (ou de seis meses, por que não? todo mundo sabe da credibilidade zero do casamento, né). Entretanto, se eu dissesse ao moço do visto que mesmo que eu não tivesse faculdade, emprego e família, eu voltaria para o Brasil porque encontrei o homem da minha vida e jamais deixaria ele passar, a probabilidade de ele chegar a lágrimas de riso é de 99,9%; enquanto que, se eu entregasse a ele a minha certidão de casamento, meu visto estaria garantido. São as assinaturas, que andam valendo muito mais que o coração.
 


4 comentários:

Andrey Brugger disse...

"São as assinaturas valendo mais que o coração".

Passei por isso, há pouco tempo. Mas na condição de "advogado" de uma cidadã lá na defensoria pública. NEgavam o beneficio dela, por ela ser "juntada" (união estável) e não casada com o cidadão que falecera!

É tenso. Boa sorte na sua empreitada.

beijo

disse...

Bom texto Roberta! Na verdade, passei por uma situação semelhante na embaixada. Mas, o comprovante de escolaridade serve para mostrar que você tem vínculos, que ainda vai estudar por aqui.
Bonito o que disse sobre sentimentos. Concordo com você. Pensamos assim porque ainda guardamos os resquícios da geração na qual nascemos. Valores de outrora, que ainda fazem parte de nós. Acho isso muito bom!

obs.: Não sou da Facom. Já me formei. Fiz teatro com você, no Empório. Te adicionei no orkut faz pouco tempo! Lembra? (risos)

kinha disse...

Nesse mundo do capital eles precisam do papel, do concreto pra nos deixar atravessar as suas linhas imaginárias. Muito contraditório! hehehe!

May disse...

"pobre latina preta que sonha estudar a língua dos branquelos loiros e sardentos" - preta??? hahahahaha
Tem graça! Vc tá mais para branquela sardenta do que para pobre latina preta. (digo isso com todo amor do mundo) :P Anyway, sem entrar na discussão "soberania" dos países e direito de controlar suas fronteiras (ainda mora uma advogada em mim) I'm glad that you got it!