segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ainda somos os mesmos e vivemos...

É frequente em mim a reflexão do quanto vivo, penso e sou igual ou diferente dos meus criadores e sobre o tamanho de sua influência na minha própria criação e formação; e quando vejo hoje, dezenove anos depois do nascimento, minha mãe a fazer coleção de livros de auto-ajuda e meu pai a escutar música ruim, esse pensamento vem à tona e me deixa confusa. Estou certa de que deles herdei muito mais do que as sobrancelhas e o jeito de falar, mas tem uma coisa que me orgulha: o incentivo cultural. Lembro com muito orgulho e respeito de ter perguntado pelo menos umas cinco vezes antes de aprender sozinha, isso lá pruns cinco ou seis anos, o significado de uma palavra e ouvir "Vá procurar no dicionário!"; ou de dizer "Arruma alguma coisa pra mim comer" e ouvir "Mim não come, mim é índio! Para eu comer!"; ou de quando enchiam a boca para dizer que éramos leitores constantes e absolutos, eu e meu irmão, e que tínhamos aprendido a ler com quatro anos de idade.

Toda essa nostalgia vem de uma breve pausa no cotidiano. Pela tarde, fiz uma boa faxina nos livros velhos do meu pai e encontrei alguns clássicos - que hoje sei que são clássicos - que nunca diria possíveis de encontrar. E esse encontro me fez pensar que, se hoje reconheço-os como clássicos, devo à criação letrada que me foi dada, não por ter aprendido com cinco anos o significado de "superficialmente", por exemplo, mas pelo gosto que me foi provocado e que nascia novamente a cada virada de folha.

A grande surpresa foi "O Profeta", de Gibran Khalil Gibran, que aprendi a amar há alguns meses, e que no momento da descoberta da versão boa e velha e desencadernada, datando de "Dezembro/73", me provocou bastante orgulho. E aqui deixo os versos proféticos sobre o amor, o mais nobre de todos os sentimentos e o único Deus que a mim se faz possível de acreditar; nossa fonte e nossa meta hoje e sempre; a única saída diante do aviso constante e presente da nossa única certeza.

"Então, Almitra disse: "Fala-nos do Amor".
'Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe;
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.'
(...)
O amor não tem outro desejo, senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes vossos desejos:
'De vos diluírdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para a casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem aventurança.'"



Desejos de um bom feriado.

Um comentário:

Andrey Brugger disse...

saiba que estou em estado de epifania com esse blog!

:)