quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

mande notícias do mundo de lá, diz quem fica...

Escrevendo diretamente do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e, pode acreditar, nenhum lugar é tão inspirador quanto um aeroporto. Muita gente diferente, indo e vindo, trabalhando, esperando, embarcando... Difícil é estar a cinco horas de embarcar para Nova Iorque e ainda se lembrar de que daqui a seis será um novo ano, ao menos para o povo aqui no Brasil. E, cá entre nós, deve ser engraçado estar lá do espaço observando as queimas de fogos de uma em uma hora, começando lá no Japão - e se matar de tanto pensar porque já é ano novo em um lugar e ainda não é no outro, todos no mesmo mundo. Aliás, me lembra que acabei de vir do Rio pra cá de avião, e poucas coisas são mais bonitas do que estar em cima das nuvens e ver a maior cidade da América Latina como uma maquete, muito pequenininha.

Eu seria injusta se dissesse que esse ano não foi bom, principalmente tendo em vista que o único acontecimento que poderia se chamar problema se tornou o motivo de uma viagem dos sonhos; não há do que reclamar. Mas é que 2010 vem aí com tanta, mas tanta coisa pra acontecer... Parece que já fiz planos pra todos os meses, para cada um dos dias, e de repente 365 parece bem longe do que se diz suficiente.

E, no mais, hoje sim eu começo a ser também saudade. Também saudade, porque passo a ser também partida; só que os planos se parecem tão maiores, que a saudade se transforma numa vontade de que você estivesse aqui comigo, ou lá também; muito mais do que querer estar aí, prevalesce querer que você estivesse compartilhando cada segundo desses que serão únicos pro resto da minha vida.

Sair de Juiz de Fora às 8:30am, chegar no Rio às 11:15am, sair do Rio às 3:00pm, chegar em São Paulo às 4:30pm, sair de São Paulo às 11:00pm, chegar em Nova Iorque às 7:00am, rodando de aeroporto em aeroporto, ou, mais simplificadamente, viajar por vinte e quatro horas, me lembra da viagem que é viver cada um dos nossos chamados dias. Portanto, aos viajantes que ficam, me despeço com carinho: tô indo viajar!


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Pronto, agora ele já foi.
Será que eu já mencionei que acho que quando a noite é boa o dia seguinte devia ser feriado? E quando o dia anterior é todo bom, então! Com direito a samba, churrasco, cachorro, conversas, choro, muita bebida até altas horas, e companheiros de vida.

Eu, na verdade, não tenho nada pra escrever. Pela primeira vez, esse post é só e exclusivamente para registrar o dia de ontem, a nossa "segunda-feira atípica", que, de tão recheado de emoções, não me desperta desejo de colocar em palavras. Na verdade, primeiramente eu não saberia, e depois, prefiro deixar tudo que a gente sentiu ontem na lembrança do próprio sentimento; escrevendo eu poderia me atrever a limitar, e tudo que eu quero hoje é pensar em ontem como um dia de compartilhamento, e de nenhuma limitação.

Agora ele já foi, deixando um presente lindo e as melhores lembranças de um último dia. Mas, dessa vez, eu também vou. E ainda não existe "metade de mim é partida e a outra metade é saudade". Eu sou toda saudade. E o que me consola? O tempo não existe mesmo...


"...dentro dos meus braços, os abraços hão de ser milhões de abraços apertado assim, colado assim, calado assim, abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim..."

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

mágoa de criança

O maior conflito existente em escrever o cotidiano, o que eu me proponho a fazer, tem sido não expor as pessoas. É claro que, de uma forma ou de outra, eu consigo, lá e cá, fazer um ou outro texto ainda mais bonito por não poder simplesmente dizer "Fulano, eu penso isso, isso e isso de você", cheio de rodeios e metáforas; tudo bem, tudo em prol da poesia, mas no fim das contas eu acabo não escrevendo muitos e muitos sentimentos e acontecimentos, e morrem aqui dentro muitas coisas que, em palavras e fora de mim, seriam de muito maior serventia e muito menor dor.
Mas hoje eu optei por expor alguém. É que o risco vale, mesmo se ela mesma ler isso daqui. Aliás, se você estiver lendo, me desculpe pela exposição, mas as palavras estão explodindo aqui dentro.

Minha mãe me criou de um jeito muito particular, mas não sei se totalmente alienado. Ou vai dizer que ela não sabia que as roupas e sapatos de marca e muito mais caras que as outras que ela me dava guardavam essa diferença? Eu consigo acreditar que ela realmente tinha a intenção de não me deixar sucumbir nesse mercado que a gente vive, e me mostrar que muito mais importante do que isso, e em primeiro lugar, vinham o nosso caráter, o respeito por todas as pessoas, a simplicidade, a cultura, o estudo.
Certa vez, veio de acontecer esse episódio, que já data de dez anos atrás e nunca saiu da minha memória: eu tinha uma "amiga", uma das primeiras amigas, que só tinha roupas e sapatos caros e de marca, e eu não entendia, simplesmente; era mais que natural que eu não compreendesse a importância da marca daqueles objetos e o descaso com que eu via tudo aquilo. Era bem assim: eu com dez anos, uma criança mesmo, sem noção de dinheiro e recheada de outros valores, sendo apresentada a um casaco de couro "que a mãe dela tinha comprado não por 450 reais, mas por 280". Seu aniversário chegou e eu e minha mãe compramos a ela uma blusa, baratinha (aqui dentro, sou capaz de me lembrar da cor, da textura, do modelo e do preço, com detalhes), numa dessas lojas de galeria, e ela alguns dias depois me disse, com essas palavras (imagina, se eu consigo me lembrar perfeitamente da textura da blusa, como esquecer essas palavras?): "porque aquela blusa que você me deu, por exemplo, eu vou usar porque você me deu, mas eu jamais compraria ela se não estivesse na vitrine da Cantão." Se foi mágoa de criança, eu não sei, sei que meu pobre e terno coração, o mais terno de todos, modéstia a parte, nunca mais conseguiu olhar para aquela menina e não se lembrar dessa frase.

Essa digressão flashbéquica, do nível daquelas do LOST, possui a mesma razão de existir: tentar fornecer ao leitor um pouco do que me levou a ser impressionada hoje pelo que aconteceu hoje.
Depois disso tudo, e bem depois, na verdade, eu aprendi que roupa é um objeto social, e que é necessário se vestir bem, e muitas vezes difícil fazê-lo com roupas extremamente baratas; mas, eu juro, mesmo a partir de quando eu já tinha dinheiro para comprar a roupa do preço e da marca que eu bem entendesse, eu sempre mantive um mínimo de noção sobre o preço do que comprar ou não. E o ponto que eu quero chegar é justamente que isso também não é importante.

Um dia, eu te ofereci cinquenta reais pra que você fizesse um trabalho pra mim. E deixo aqui minha ressalva: não é que eu pense que posso comprar tudo no mundo, ou que posso colocar preço na educação, foi uma ajuda remunerada que eu te pedi. E você aceitou e não teve sequer a coragem de pegar o dinheiro. E me disse: "Vamos fazer assim: semana que vem a gente vai na rua e você compra um sapato pra mim!" 
Meu primeiro pensamento foi aterrorizante, eu imaginei um dos últimos sapatos que eu comprei, a cem, cento e cinquenta reais cada um - e olha que eu ainda seleciono o preço! Por fim, hoje nós fomos na rua, eu entrei numa dessas lojas que vendem um zilhão de sapatos e nas vésperas do natal estão sempre lotadas de gente comprando sandálias no crediário por 5 vezes de 10 reais (e que não me entendam mal, é uma DESCRIÇÃO OBJETIVA, e nunca, jamais, passaria perto do pejorativo), e paguei trinta reais por um tênis. Trinta reais é o que eu gasto numa noite normal de quarta feira numa pizzaria. Trinta reais é o meu almoço de terça no shopping. Eu já não passo mais um fim de semana com apenas trinta reais. Você sorriu de orelha a orelha, colocou no pé e saiu feliz pela rua, e nem se deu conta do turbilhão de pensamentos que me atingiram durante toda a tarde.

Não seria essa a real nobreza? Estar o tempo todo cercado de meios que te dizem o que (não) fazer, como (não) se vestir, como (não) se expressar, o que (não) comer, como (não) agir, e ainda assim nem se importar? Eu, nesse minuto, sinto muita vergonha de ter escrito tudo isso, de ter sentido tudo isso e ainda assim continuar agindo da mesma maneira (posso colocar a culpa na incoerência ambulante que fui-tenho-sido-sempre-serei? e publicar também quando escuto que eu deveria me importar com a quantidade de televisão que eu assisto que me torna pessimista e sonhando sempre com o que não posso ter? e quando eu implico que ele deixa comida no prato e ele me lembra que eu compro botas de duzentos reais?), mas mesmo assim, resisto, e publico, deixando aqui a minha declaração de admiração pela simplicidade que você, ao contrário de muitos de nós e de mim, inclusive, consegue manter diante desse nosso meio tão influentemente estúpido. Dentre os seus vários defeitos, como falar demais e o tempo inteiro, e ser ingênua de maneira atrapalhada, eu me sinto hoje reconhecendo a sua maior qualidade, a simplicidade, que é o que as pessoas mais vivem buscando sem conseguir enxergar. Aquelas que te dizem o que fazer, que esbanjam sua própria felicidade monetária e tentam nos convencer de que nossa ambição é ser iguais a elas, buscam, bem lá no fundo, a paz de enxergar, um dia, quem sabe, tudo o que gira em torno delas com a pureza de uma criança, com a mesma sensibilidade que você enxerga o nascer do sol, sem amargura, sem angústia, sem raiva, ou mau humor.

Me resta sentir pena, que é sentimento mais feio que se pode ter por alguém. E tomar como (mau) exemplo, pra que a minha ambição continue sendo sempre crescer sem perder a simplicidade (e muito menos a dignidade).

Escrevi muito. Deixo vocês com dois trechos de um texto muito maravilhoso de Rubem Alves, chamado "Sobre Simplicidade e Sabedoria", e recomendo a leitura aos que ainda possuírem um pingo de paciência:

"No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o vôo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu vôo pela manhã. Já observaram o vôo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. 
Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só."
"Diz Guimarães Rosa que 'felicidade só em raros momentos de distração...' Certo. Ela vem quando não se espera, em lugares que não se imagina. Dito por Jesus: 'É como o vento: sopra onde quer, não sabes donde vem nem para onde vai...' Sabedoria é a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples."

tente ser feliz enquanto a tristeza estiver distraída...

Meu velhinho ta ficando mais velho hoje!
Há dezenove anos me preparando para a vida e há sessenta e oito por ela espalhando alegria, e haja alegria! O meu maior orgulho é acordar com esse telefone que não pára de tocar, e são eles, os seus amigos, os velhos, os novos e os sempre presentes, que você construiu compartilhando toda essa alegria que existe desde muito tempo aí dentro.
Quero que viva muitos e muitos anos mais, que me ajude com o carro, que conheça a minha casa, que veja meus filhos (e por que não meus netos?), que tenha orgulho do que se tornou a sua menininha rapa do tacho.
Entre as brigas diárias, o nosso mau humor constante (guardadas as devidas proporções desse "nosso"), o silêncio matinal e a gritaria vespertina (não é isso que é família?), eu reconheço, eu tenho mesmo muita sorte!
Um beijo enorme de feliz aniversário! Amo você!


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Férias.
Preguiça matinal.
Inchaço nos olhos.
TPM.
Almoço pequeno.
Preguiça vespertina.
Filme bonito. Muito bonito.
Choro.
Muito choro.
TPM.
Dor de cabeça.
Meio trabalho.
Meio férias.
Fim de ano.
TPM.
Namorado.
Sete meses.
Desabafo.
Choro.
Inchaço nos olhos.
TPM.
Internet e televisão.
Nova York.
Fim de ano.
Frio na barriga.
Preguiça noturna.
Sono.





Frio na barriga.
ou seria butterflies in my stomach?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

na arquibancada da vida você se perder

Mesmo quem não me conhece reconhece que o samba corre bem na minha veia. Vem lá de dentro furando a mineirice e tendo a mesma proporção que o Rio na minha vida, tão pertinho, tão acessível, tão importante, tão bonito e tão violento. E também curioso.
Tem um tipo de samba que eu gosto bastante que é o que faz metáforas de carnaval. Tem várias, pra quem não conhece:

“Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando…”
Chico Buarque - Ela Desatinou

"Agora sei desfilei sob aplausos da ilusão
E hoje tenho esse samba de amor, por comissão
Fim do carnaval, nas cinzas pude perceber
Na apuração perdi você” 
Jorge Aragão - Enredo do Meu Samba

E eu sei que vocês conhecem muitos e muitos mais. Mas peço licença para registrar um que vem martelando na minha cabeça há um tempo. Se chama "Tamanco Malandrinho", e não conheço os autores, mas tem combinado bem com essa temporada do seriado.

"Vista sua mortalha azul turquesa
Mais bonita que a beleza
Mais humana que o perdão
Calce seu tamanco malandrinho
Pintado de azul marinho
Que é a cor da solidão
Transe, carnaval são só três dias
De cachaça e de folia
De alegria e emoção
Chore quando chega a terça-feira
Peito estoura de saudade
Estraçalha o coração
Que eu quero ver


Eu quero ver
Meu bloco na avenida sete encontrar com você
Eu quero ver
Na arquibancada da vida você se perder..."


Aiii não resisti, só mais um:


"Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia
 
Hoje o samba saiu
Procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer..."
Chico Buarque - Quem te viu, quem te vê
Ontem ela veio...e eu a deixei entrar. Sem querer, eu juro, mas ela entrou. Consumiu todo o meu corpo, toda minha mente, tudo o que abriga sensação e sentido. Foi vagarosamente subindo desde os dedos do pé até a ponta do último fio de cabelo e no fim quis descer molhando meus cílios e encharcando meu rosto; mas aí já era demais, o que restou em mim secou o olhar por vergonha. Ela já me tinha dominado o suficiente. Eu disse "chega, vai embora!", e eu disse, eu disse! Mas ela não foi...e está aqui, e até que eu me recomponha e a mande embora, ela aqui vai permanecer, morando dentro de mim.
"(...) a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é."
E ninguém que não seja eu posso governar e mandar no meu sentir. Fica a dica.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

 "O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. 
O que deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza"

Uma célebre frase do nosso mestre Guimarães Rosa pra ilustrar o que eu mais tenho ouvido (e sentido, não nego) nas últimas semanas: "to muito cansado" e "quero férias". A verdade é que um belo dia resolveram dividir o nosso tempo em anos, meses, dias e noites, horas e minutos, e assim resolvemos seguir e só permitir que o cansaço venha do acúmulo, e isso é sempre no final do que quer que seja; além da disposição, que só retorna no início, do que quer que venha a ser.

O signfiicado de terminar um ano? Eu por várias vezes já me perguntei se seria realmente "mais um ano" ou "menos um ano", e a conclusão é simples de que seria mais um na contagem da nossa idade e menos um no número dos que chegaremos a completar, sem ter absolutamente nada a ver com aquela história de que devemos sempre ver o copo metade cheio e não metade vazio, bla bla bla; um cálculo simples, como devem ser os cálculos, baseados na lógica conceitual que, mais uma vez, nós mesmos criamos. Só que, se eu resolver colocar um cadinho só de sentimento nessa análise, seria com certeza "mais um ano": um ano de muita coisa boa, de letras, de ich, de gente nova e inteligente e musical, de são joão, de radioleft, de muito estudo e muito trabalho, de muita leitura, de pouco sono, de nenhuma atividade física, de muitas noites, muito mais que dias, de pouca briga e de pouco choro. E não poderia nunca deixar de destacar o principal, que sustentou todos os outros, que a eles deu origem e, para permanecerem, coragem: esse foi, sobretudo, um ano de escolhas. E não é mesmo diante delas que a gente realmente se mostra?

E do próximo, nada, nada se sabe, exatamente como de todo o resto; quando se pensa assim, até mesmo acordar amanhã de manhã se torna mais um dos nossos "planos futuros muito distantes". Em resumo, vamos acabar as provas, entrar de férias, comprar presentes, ver "Esqueceram de Mim 25" na Sessão da Tarde, ter pelo menos três amigos ocultos, curtir o natal como de costume (pela religião, pelo feriado, pela união da família, pelos presentes ou pela comilança), esperar por uma semana a chegada do novo ano, estourar uma champagne e recomeçar tudo outra vez, como já vimos fazendo por alguns anos. E só me resta desejar uma boa renovação para todo mundo.


"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente."